Não adianta combater a seca do semiárido; a atitude mais correta é aprender a conviver com a ausência de chuvas. Esse foi o tom da audiência pública sobre segurança alimentar e nutricional e as ações de prevenção e adaptação no semiárido nordestino da Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas, ocorrida nesta terça-feira (5).
No encontro, o coordenador de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente, Francisco Campelo, frisou que a população precisa se adaptar às especificidades do clima nordestino. Ele lembrou que há 500 anos o Brasil convive com a seca sempre insistindo em tentar combatê-la.
Para Francisco Campelo, é preciso traçar uma estratégia de sustentabilidade exclusiva para o semiárido a fim de garantir recursos suficientes para a segurança alimentar da população e dos animais. Essa estratégia estaria relacionada à sustentabilidade nos momentos de dificuldade, como na seca.
Um dos erros de estratégia, segundo Campelo, é justamente querer comparar a produção da agricultura familiar do semiárido à de outros biomas. “Como é que um produtor sustenta a sua família com uma produção de 200 quilos de feijão? No Sudeste, por exemplo, um hectare produz duas toneladas de feijão, mas, no Nordeste, são 300 quilos. Então, tem que haver uma estratégia de sustentabilidade ou o agricultor, para sobreviver, vai querer que aquele solo produza mais, o que não é sustentável para a região”, alertou.
Ainda sugerindo formas de manter a segurança alimentar no semiárido, Campelo ressaltou a importância de não se perder as espécies que já estão adaptadas.
O conselheiro nacional de Segurança Alimentar e Nutricional da Presidência da República, Edélcio Vigna, citou um estudo que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) fizeram sobre o aquecimento global e a nova geografia agrícola. Segundo o conselheiro, a conclusão da pesquisa foi que o crescente impacto das mudanças climáticas forçará a mudança do sistema nacional de produção e armazenamento. Para evitar a falta sucessiva de alimentos, a população terá de formar reservas.
Eventos extremos
Edélcio Vigna lembrou que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) da Organização das Nações Unidas indica que as regiões mais pobres como a África, Ásia e a América Latina são as que têm menos condições de enfrentar as mudanças climáticas, além de serem as mais vulneráveis a eventos extremos, como enchentes, estiagens e furacões.
O conselheiro disse que, mesmo com todas essas dificuldades, o Brasil não possui um mapeamento das áreas e das populações que estão em zona de risco e não tem medidas socioambientais de prevenção de riscos climáticos. “Dá a impressão que as autoridades estão alheias aos problemas que a sociedade sofre. Elas prometem programas, atividades, recursos, mas estão longe da dor dessas populações”, disse o conselheiro.
Para o conselheiro, o foco principal do impacto das mudanças climáticas são as grandes cidades, onde o País concentra 82% da sua população. Ele acredita que essas pessoas sofrerão mais com as enchentes, deslizamentos de encosta, soterramentos, descontinuidade nos serviços públicos e ineficiência das políticas urbanas, como moradia digna, saneamento básico, água potável e luz elétrica.
Já o campo, de acordo com Vigna, sofrerá com a diminuição da produtividade e, consequentemente, será necessário usar mais agrotóxicos e produtos químicos, com maior possibilidade de poluição hídrica.
O presidente da comissão, deputado Márcio Macêdo (PT-SE), informou que na próxima semana os parlamentares vão preparar os eventos para a Rio+20. Durante o evento, devem acontecer duas audiências públicas da comissão.
Fonte: Agencia Câmara/Cidade News Itaú
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