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quinta-feira, maio 17, 2012

Futebol brasileiro se livra da obrigação de "vender um craque por ano" com receitas em alta


Neymar, do Santos, e Leandro Damião, do Inter, são exemplos do novo momento

“Para fechar as contas, precisamos vender um ou dois jogadores por temporada”. Certamente você já ouviu essa frase, ou variações com o mesmo conteúdo, da boca do presidente ou de diretores importantes do seu clube do coração. Esse tipo de pensamento era muito comum no futebol brasileiro há alguns anos. Mas a realidade está mudando.

Desde 2007, os clubes nacionais estão se livrando da obrigação de transferir jogadores para o exterior a cada temporada. Segundo levantamento feito pela consultoria BDO, há cinco anos 37% do faturamento do futebol nacional vinha da venda de atletas. Era, de longe, a principal fonte de dinheiro dos clubes. Hoje, essa realidade é diferente: transferências representaram, em 2011, apenas 15% das receitas, número inferior, por exemplo, ao arrecadado com cotas de TV (36%) e acordos de patrocínio (18%).

“É uma tendência que estamos verificando. A crise econômica na Europa é um fator importante para isso. E outro ponto importante é que os clubes estão fazendo um esforço muito maior para segurar os jogadores no país, algo que não acontecia há alguns anos”, explica Amir Somoggi, diretor da área de consultoria esportiva da BDO, que analisa a saúde financeira dos clubes brasileiros há oito anos.

O maior exemplo desse novo fenômeno é Neymar. Apesar do assédio dos grandes do futebol europeu, que ofereceram fortunas para contratá-lo, o atacante segue na Vila Belmiro. O time, porém, não lamenta o dinheiro que não entrou. Pelo contrário: segundo o presidente do Santos, Luis Álvaro Ribeiro, o jogador gera receitas ao “aumentar nossos valores de patrocínios e as nossas negociações nas cotas televisivas”. E reflexo disso já foi visto: o Santos apresentou a quarta maior receita do país em 2011, graças ao grande aumento dos ganhos do clube com patrocínios (R$ 42 milhões) e bilheteria (R$ 38,2 milhões).

Grande parte desse dinheiro, aliás, veio do jogador, que ainda recebe o maior salário do país em uma composição entre pagamentos do próprio clube e contratos de patrocínio – o atleta soma mais de dez patrocinadores pessoais. Além disso, o dirigente santista ainda vê mais uma contribuição chave de Neymar para o clube: “Sle vai nos dar um patrimônio inestimável em pouco tempo. Acreditamos que podemos chegar a ser a terceira maior torcida do país”.

O caso, porém, não é único. O São Paulo fez o mesmo com Lucas. E o Internacional conseguiu manter Leandro Damião em Porto Alegre apesar do assédio. Os gaúchos, aliás, resolveram o problema da necessidade de venda com formas alternativas de receitas. Uma delas é o programa de sócio-torcedor, que responde por 21% das receitas do clube – o mesmo que é recebido com transferências. “Os clubes brasileiros têm um déficit anual sobre o que arrecadam e o que gastam. Nós precisamos repor isso com a venda de jogadores. Esse é o nosso modelo de gestão há muito tempo. Mas, hoje, o Internacional está estabilizado financeiramente. Paga todas as suas contas em dia. Não tenho uma preocupação maior de dizer que preciso vender o Damião”, afirmou o presidente do Inter, Giovanni Luigi.

Além disso, a tendência é repatriar atletas que estavam na Europa. E, ao contrário do que acontecia em anos anteriores, os alvos não são mais apenas os jogadores que não deram certo no Velho Continente. O Corinthians, por exemplo, pagou caro para trazer o meia Alex, que estava no futebol russo. O Flamengo fez o mesmo com Vagner Love, que era destaque de sua equipe na Rússia. Luís Fabiano também voltou ao Brasil, para o São Paulo, apesar de ainda ter mercado no futebol europeu.

Apesar do número de exemplos que mostram essa inversão de valores no futebol nacional, a transferência de jogadores segue sendo necessária. O maior exemplo disso é o Grêmio. Um dos times que mais contratou na temporada, incluindo a volta do atacante Marcelo Moreno ao Brasil, teve de vender jogadores para fechar as contas. Nesse balaio, o defensor Mário Fernandes acabou no CSKA, da Rússia.

O time pagou 15 milhões de euros pela revelação gremista. O clube gaúcho, porém, ficou com apenas 7 milhões de euros (já que os direitos estavam fracionados). "Temos que tapar buracos, pagar contas, é algo comum aos clubes de futebol", justificou o presidente Paulo Oldone. 

Fonte: Uol Esportes

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