O problema da superlotação dos grandes hospitais públicos de Fortaleza segue sem solução. Enquanto isso, pacientes continuam morrendo em seus corredores. Na última segunda-feira, mais uma vítima não identificada veio a óbito no chão do Hospital Geral de Fortaleza (HGF).
Mesmo depois de ser atendido por uma equipe de médicos e enfermeiros do hospital, que tentaram reanimá-lo, o paciente não resistiu. Segundo a assessoria de imprensa do HGF, o homem sequer passou pela recepção para identificação, por conta da necessidade de ser atendido de imediato.
"Uma equipe de profissionais fez o atendimento e constatou que o mesmo estava com oito perfurações à bala, apresentava parada cardíaca e não respondia aos sinais vitais. Os médicos fizeram massagem cardíaca e os procedimentos necessários. Entretanto, ele já chegou sem vida e não houve tempo para colocá-lo sequer em uma maca", justificou a assessoria.
Com relação à superlotação do HGF, a assessoria informou que, em média, são postos à disposição 70 leitos extras por dia, entretanto, isso não é o suficiente para atender uma demanda muito superior de pessoas que recorrem ao hospital.
Ausência
Para o coordenador geral de Emergência do HGF, Rommel Araújo, o problema da falta de leitos de retaguarda (reservas) tanto para as unidades de Enfermaria quanto para UTIs representam um "gargalho" para um hospital terciário como é o HGF. "É por isso que, na maioria das vezes, nós temos as nossas salas de parada e de estabilização superlotadas e sem condições de receber mais ninguém, pela falta de leitos de retaguarda", disse.
Ele explicou que este problema se arrasta ao longo dos anos. "Se não houver uma decisão política de aumentar o número de leitos de retaguarda, tanto os secundários da enfermaria, resolutivos, quanto os leitos de UTIs, também resolutivos, nós vamos continuar com superlotação e correndo riscos de perdas humanas", justificou.
SUS
O coordenador acrescentou que os hospitais terciários de alta complexidade se transformaram na porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), quando esta deveria ser a atenção básica. "Nós temos todos os municípios do Estado, incluindo-se Fortaleza, em gestão plena, significando com isso que a responsabilidade pela atenção básica de qualidade é fundamental, sem desconsiderar as atenções secundária e terciárias. Com isso, a atenção básica e secundária deveriam ser responsáveis por cerca de 90% dos atendimentos. Caberia aos hospitais terciários, o atendimento a pacientes de alta complexidade. No entanto, o que existe é uma inversão desta ordem", critica.
"Temos uma demanda cada vez mais crescente de pacientes internados nos corredores do HGF que poderiam estar em hospitais de média complexidade, se estes fossem resolutivos. Nós somos o maior hospital público em condições de fazer o atendimento clínico e cirúrgico", acrescentou o médico.
"Mas o nosso papel como hospital é fazer o primeiro atendimento em emergência terciária. O paciente chega, faz exames complementares e define diagnóstico. Se for caso cirúrgico, vai para o centro cirúrgico, se precisar de leito de UTI, deveria ter leito suficiente interna ou externamente, mas isso não acontece pelo fato da ausência desses leitos (retaguarda). É aí que começa toda a complicação", explicou Araújo.
Enfermaria
De acordo com o coordenador, em Fortaleza, não existem leitos de retaguarda. "No HGF, temos uma média de 28 a 30 pacientes com indicação de UTI que precisariam desses leitos. Já na Enfermaria, tem-se uma média de 70 a 80 pacientes. Lembrando que, quando se fala em leito de enfermaria, resolutivo, não é só cama, lençol e travesseiro, é preciso toda uma estrutura, recurso humano, recursos materiais e condições técnicas de laboratórios de apoio", ressaltou.
"É impossível se controlar, no Estado, principalmente em Fortaleza, esta demanda desenfreada oriunda da rede secundária, porque a mesma não deu sua resposta e termina acumulando e não se consegue contra-referenciar esses doentes", finalizou Rommel Araújo.
Fonte: Portal Miséria via Diário do Nordeste
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