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domingo, março 18, 2012

Delegado especial vai investigar morte de jovem em ação da Polícia

 


Dois policiais militares de Baraúna serão investigados sob suspeita de terem assassinado um jovem de 21 anos durante uma suposta operação policial. A morte ocorreu em julho de 2010 e, oito meses depois, a investigação ganha novo rumo com a nomeação de um delegado de Natal, designado em caráter especial, para apurar esse caso. Os policiais alegam ter cumprido o seu papel, em operação, enquanto a família da vítima diz que o rapaz foi executado, sem esboçar nenhum tipo de reação contrária.
A vítima é Francisco de Assis Silva Santiago, que tinha 21 anos e foi morta no dia 3 de março de 2011, em Baraúna. Ele estava em uma lanchonete da cidade, juntamente com outras pessoas, quando teria sido alvejado pelos soldados Coriolano Joaquim de Magalhães e Nero Ramon Campos Coelho. Segundo a versão da família, o crime teria sido testemunhado por várias pessoas, mas nenhuma delas quis contar o que viu durante a investigação, que até então era presidida pelo delegado Caetano Baumman de Azevedo, que respondia pela Polícia Civil na cidade e estava com esse caso.
Ainda segundo a denúncia da família, após alvejarem o rapaz, os policiais, que não estavam de serviço naquele dia, pediram "apoio" à equipe que trabalhava naquele dia em Baraúna. Vieram mais quatro, identificados como Rosário, Arimatéia, Adle Guimarães e Alcimar Vieira, que também teriam participado do assassinato. Após sofrer vários disparos, a vítima foi retirada do local do crime a pretexto de prestação de socorro, conforme versão da família. Ele foi levado na viatura para uma comunidade rural de Baraúna. A equipe passou em frente ao hospital da cidade, mas não parou e seguiu.
Depois de alguns minutos, os policiais retornaram com Francisco de Assis Silva já sem vida, entregando-o no hospital da cidade. A família afirma, inclusive, que esse trecho da versão, considerado gravíssimo pelas autoridades, é confirmado pelos funcionários do hospital da cidade, que estavam à espera da vítima para prestar socorro e viram quando os policiais passaram em frente ao hospital e não pararam. Caso estivesse vivo, só a demora no atendimento poderia ter comprometido a vida do rapaz, o que seria omissão do socorro - mesmo se fosse em operação, os PMs tinham de socorrer. 
No entanto, a versão apresentada pelos policiais, e que foi amplamente divulgada pelos meios de comunicação da região na época, é completamente diferente dessa que é denunciada pela família do jovem morto. Os militares alegam que Francisco, "Chico Litro", como era mais conhecida a vítima, teria morrido durante uma operação policial. Um revólver de calibre 38 foi apresentado pelos PMs na Delegacia de Polícia Civil, supostamente apreendido em poder da vítima. Eles alegaram ter participado de uma troca de tiros, porém a perícia mostrou que a arma apresentada não havia sido utilizada.

OAB critica ações da PM em Baraúna
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Mossoró demonstra preocupação com as recentes operações policiais que vêm sendo realizadas em Baraúna, onde corriqueiramente resultam em mortes, fruto de supostos confrontos entre policiais e bandidos.
"A Comissão de Direitos Humanos da OAB tem verificado que o modo operacional da Polícia de Baraúna tem sido arbitrário e violento", critica Fransueldo Vieira de Araújo, primeiro secretário da Comissão de Direitos Humanos.
"Não é a primeira vez que pessoas simples são desrespeitadas, assassinadas pela Polícia Militar em Baraúna", denuncia o advogado, afirmando que o caso da morte de Francisco de Assis Silva Santiago foi um dos mais explícitos e está sendo acompanhado pela Comissão de Direitos Humanos da OAB.
O caso passou a ser acompanhado pela Ordem a pedido de familiares da vítima. A família reclamou que a investigação estava parada e a OAB passou a pressionar a Delegacia Geral de Polícia Civil (DEGEPOL) para designar um delegado em caráter especial para se dedicar a essa investigação.
Fransueldo lembra ainda que os policiais envolvidos na morte de Francisco de Assis continuam trabalhando e denuncia que eles estariam até coagindo as testemunhas. Temendo sofrer algum tipo de represália, a família da vítima se mudou de Baraúna. "A família deles não mora mais em Baraúna, já se antecipando a uma suposta ação desses policiais".
Neste ano, duas pessoas foram mortas em uma operação policial em Baraúna, realizada no dia 21 de janeiro. As vítimas são Francisco Acelino Barbosa Júnior, conhecido como "Júnior Bandido", e Francisco das Chagas Pereira, "Chaguinha". 
A história contada pelos policiais militares é semelhante à que está sendo investigada por um delegado especial de Natal. Eles afirmaram que Júnior Bandido e Chaguinha teriam resistido à prisão e, durante troca de tiros, os dois teriam sido alvejados e morreram. A dupla também foi levada para o hospital da cidade para ser socorrida, assim como na morte de Francisco e do seu amigo Gladstone Pereira de Oliveira, que morreu cinco dias depois.

Amigo da vítima também morreu em ação policial
Cinco dias depois da suposta operação policial que resultou na morte de Francisco de Assis Silva Santiago, um amigo dele também morreu em circunstâncias parecidas. A Polícia Militar de Baraúna alegou que a morte foi numa troca de tiros.
Gladstone Pereira de Oliveira morreu no dia 7 de março de 2011. Segundo disse à reportagem na época o comandante do Pelotão da PM de Baraúna, tenente Luís Almeida, Gladstone foi perseguido por policiais da cidade e, ao ser encurralado, resistiu à prisão, quando houve um confronto.
Gladstone estava acompanhado de outra pessoa, identificada na época apenas como "Lízio", primo de Francisco de Assis Silva, morto cinco dias antes, de forma semelhante, ainda conforme versão da PM.
Também na época, o tenente Almeida disse ao DE FATO que Lízio e Gladstone estavam rondando a casa de um dos policiais que tinham participado da suposta operação que resultou na morte de Francisco.
A intenção dos dois, segundo o PM, era vingar a morte de Francisco de Assis. Os dois foram seguidos até a zona rural, quando sofreram um acidente de motocicleta. Gladstone morreu ao supostamente trocar tiros, enquanto Lízio fugiu.
Assim como ocorreu na morte de Francisco de Assis, os policiais retiraram Gladstone do local da tal troca de tiros e o levaram ao hospital de Baraúna. Um revólver calibre 38 também foi apresentado pelos militares, apreendido durante a operação que realizaram.
O tenente Almeida disse ainda, após as duas operações, que os três suspeitos, dois deles mortos, eram investigados por crimes cometidos na cidade.
Francisco seria acusado da morte do agricultor José Ribeiro Granja, que tinha 67 anos e foi assassinado no dia 10 de julho de 2011, em Baraúna. Além desse crime, o nome de Chico Litro era citado em investigação de assaltos na região. Nos crimes investigados, estava um roubo dos Correios local.

Fonte: Defato

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