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terça-feira, março 20, 2012

Caso Andreia: julgamento será capítulo final de uma novela

Por Thyago Macedo
Fotos: Cedida e Thyago Macedo

Um dos casos policiais mais emblemáticos dos últimos anos no Rio Grande do Norte, chegando, inclusive, a ser tido comparado com uma trágica novela, terá um desfecho nesta terça-feira (20). A morte da gaúcha Andreia Rosângela Rodrigues ganhou repercussão nacional, no ano de 2007, pela forma como ela foi assassinada e pelas dificuldades que a polícia encontrou durante a investigação, principalmente, para localizar o corpo da vítima, que estava enterrado no quintal da casa dos sogros.

Andreia Rosângela era casada com o sargento da Aeronáutica Andrei Bratkowski Thies. Os dois são do Rio Grande do Sul e vieram morar em Natal em virtude do trabalho do militar. No dia 22 de agosto de 2007, a dona de casa foi assassinada pelo marido e teve o corpo escondido dentro de uma geladeira em casa, no bairro de Nova Parnamirim. O próprio sargento procurou a Polícia Civil e registrou o desaparecimento de Andreia, alegando que ela havia abandonado a família.

A partir daí, iniciou-se a investigação sob o comando do delegado Raimundo Rolim, da Delegacia Especializada em Homicídios. Um mês após o desaparecimento de Andreia, o delegado prendeu Andrei Thies como principal suspeito no sumiço da gaúcha. Desde o início, o militar negava ter matado a esposa. Como até então o corpo não tinha sido localizado, a polícia mantinha o sargento preso para que ele não atrapalhasse as investigações.

Exatamente dois meses após a morte de Andreia Rosângela, o delegado Raimundo Rolim encontrou o corpo da dona de casa. Para surpresa de todos, até mesmo da polícia, Andrei Thies e o pai dele, Amilton Thies, tinham enterrado a mulher no quintal de uma casa em Ponta Negra, para onde a família tinha se mudado poucos dias após o assassinato.

Antes disso, o corpo de Andreia foi deixado em uma geladeira e, em seguida, em um freezer de uma empresa especializada em polpas de frutas, onde Amilton Thies trabalhava. Com a localização do corpo, estava constatada a autoria do crime e toda a família Thies, incluindo o sargento Andrei, o pai dele, Amilton, e a mãe, Mariana Thies, foram presos por homicídio e ocultação de cadáver.

Um irmão do sargento Andrei também foi preso no dia em que o corpo foi encontrado. No entanto, pouco tempo depois ele ganhou liberdade e o processo contra ele foi arquivado, tendo em vista que o rapaz apresenta problemas mentais e, de acordo com a polícia, não teve participação no assassinato.

Com pai, mãe e filho presos, o delegado Raimundo Rolim começou a trabalhar para identificar a participação de cada um deles no crime. Logo que o corpo foi encontrado, Amilton chegou a confessar que ele teria matado Andreia. Pouco tempo depois, eles mudaram a versão e o sargento Andrei assumiu toda a responsabilidade do homicídio, inclusive, afirmando que tinha escondido o corpo sozinho, sem a participação dos pais.

Na época do crime, Andrei Thies chegou a dizer à polícia que tinha enterrado o corpo da mulher dentro da Base Aérea de Natal, em Parnamirim, onde trabalhava. Isso, no entanto, foi descartado meses depois, após a Polícia Civil realizar uma reconstituição e constatar que seria improvável que ele enterrasse o corpo na área militar, desenterrasse dias depois e atravessasse toda a área da Base Aérea com um corpo no interior do carro sem que fosse descoberto.

Ao final das investigações e reconstituição, o delegado Raimundo Rolim indiciou Andrei, Amilton e Mariana pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. O Ministério Público acatou o pedido e o remeteu para a Justiça, incluindo ainda o detalhe de que a mãe do sargento da Aeronáutica, Mariana Thies, teria articulado a morte de Andreia Rosângela, por não gostar da nora.

Todos os detalhes do caso Andreia, como ficou conhecido, ganharam as páginas de jornais e foram destaques em programas de TVs durante vários dias, com novidades e contradições surgindo a cada nova reportagem. Por esse motivo, o caso praticamente se tornou uma novela e despertou a curiosidade de muita gente.

Na époda, Andrei fez uma reconstituição e mostrou como teria agredido e matado a esposa, representada por uma policial
 
 
Após a mulher desmaiar, sargento teria usado almofada para asfixiá-la e depois colocou corpo na geladeira


Andreia Rosângela Rodrigues morreu aos 37 anos de idade. Quando foi assassinada, ela tinha uma filha de 13 anos, fruto de outro casamento, e uma criança de apenas um ano, filha dela com o sargento Andrei. Com a prisão dos pais e avós e a morte da mãe, a menina teve a guarda repassada para uma irmã de Andreia, que mora no Rio Grande do Sul. Priscila Rodrigues cuida da criança até hoje e veio para Natal acompanhar o julgamento da família Thies.

A espera de Justiça

Priscila Rodrigues revela que desde que a irmã foi assassinada que ela esperava que esse dia chegasse. “Vamos a ter a realização de tudo que sempre desejamos, que é que a justiça seja feita e as pessoas responsáveis pela morte de Andreia paguem pelo crime”, afirma. De acordo com Priscila, a morte de Andreia foi o desfecho trágico de seis meses de sofrimento.

“Desde que eles mudaram para Natal, minha irmã passou a ser perseguida e até mesmo agredida pela sogra. Várias vezes ela me ligou relatando o que estava sofrendo e teve um dia em que ela contou que não poderia mais falar comigo ao telefone, pois estava sendo vigiada através da extensão telefônica”, lembra Priscila Rodrigues.

Andreia chegou a contar para a irmã que vivia em cárcere privado e não podia sair de casa. “A morte dela foi articulada e acredito que o aluguel da casa em Ponta Negra já foi pensando na ocultação do cadáver”, destaca a irmã. Hoje, Priscila Rodrigues tem a guarda da menina de cinco anos filha de Andreia e Andrei e, há sete meses, ganhou a guarda da filha mais velha de Andreia, que tem 16 anos. A menina chegou a morar com o pai biológico logo após a morte da mãe, mas estava sendo agredida por ele dentro de casa e, com isso, a Justiça concedeu a guarda para a tia.

Questionada se durante esses últimos anos, o sargento Thies ou os pais dele teriam tentado alguma maneira de ver a menina de cinco anos, Priscila Rodrigues contou que nunca recebeu nenhum tipo de contato por parte da família Thies. “Mesmo que eles quisessem, não tinham mais direito, pois a justiça decretou a destituição familiar deles para com a criança”, frisou.

 
Andrei e o advogado Álvaro Filgueira
 
Defesa está tranquila


A reportagem conversou, nesta segunda-feira (19), com o advogado da família Thies, Álvaro Filgueira. Ele comentou que a defesa está tranquila para o julgamento porque terá condições de retirar a acusação de homicídio para os pais de Andrei. Para o advogado, eles apenas podem ser condenados por ocultação de cadáver.

Álvaro Filgueira explicou que o sargento Andrei Thies confessou o assassinato e relatou como fez isso sozinho. “Quanto a isso, não há o que contestar. O Andrei brigou com Andreia e acabou matando-a. Depois disso, foi até a casa do pai, que fica em frente à deles, em Nova Parnamirim, e contou o que tinha feito”, conta o advogado.

Por esse motivo, a defesa espera convencer os jurados que não há elementos e provas para a participação dos pais no assassinato. “O promotor quis aparecer e chegou a incluir na denúncia que Mariana Thies tinha sido a mentora intelectual. Mas não há nenhum indício no inquérito que comprove isso, tanto que o delegado Rolim não indiciou a mãe de Andrei dessa forma”, completa.

Caso a defesa consiga que Amilton e Mariana sejam condenados apenas pela ocultação de cadáver, já que os dois sabiam que o corpo estava enterrado no quintal da casa de Ponta Negra, os dois poderão sair do julgamento já com a liberdade assegurado, isso porque estão presos há quatro anos e a condenação máxima para ocultação de cadáver são três anos.

Já a situação do sargento Andrei Thies é bem mais complicada. Como ele é réu confesso, sua absolvição é pouco provável. Ele deverá ser condenado por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver, podendo pegar mais de 50 anos de prisão. O acusado está preso na Base Aérea de Natal desde 2007, mas assim que receber condenação ele perde a função de militar e terá que ser transferido par a um presídio comum. Desde que foi preso, Andrei Thies não teve mais contato com a filha e boa parte dos seus vencimentos como militar é transferido para os custos da criança, por determinação judicial.

Fonte: Portal BO

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