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domingo, fevereiro 05, 2012

Extração de areia ilegal no Rio Mossoró

O tráfego é intenso e pesado. Destrói ruas e geram reclamações dos moradores de Governador Dix-sept Rosado, município de 13 mil habitantes distante 37km de Mossoró. Carretas enormes e máquinas pesadas retiram areia sem autorização do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente (IDEMA) de vários trechos do leito do rio Apodi/Mossoró. Nesta sexta-feira, 3, a reportagem do JORNAL DE FATO seguiu os caminhões, todos pertencentes às empresas de construção civil de Mossoró.
O primeiro passo foi no Posto da Polícia Rodoviária Estadual. A carreta segue em velocidade não superior a 80km. Desvia de alguns animais no trecho entre Mossoró e Governador Dix-sept Rosado. Entra na cidade, passa por um sinal de trânsito e logo uma quadra à frente acessa uma rua estreita, ao lado da Igreja de São Sebastião, padroeiro do município. É o acesso ao leito do rio Apodi/Mossoró, num trecho de água corrente, incrivelmente limpa. 
Duas máquinas, uma enchedeira e uma retroescavadeira já estavam operando no local. Outros dois caminhões estavam à sombra de algumas árvores nas margens do rio. Em poucos minutos, outros três caminhões chegaram. Era hora de almoço. Em poucos minutos, a retirada de areia recomeçou. A retroescavadeira juntava a areia em montes, enquanto populares pegavam águas em borrachas em cima de carroças e uma mulher lavava roupa.
O piloto da retroescavadeira parou suas atividades para perguntar se o repórter era do Jornal de Fato. Com a resposta positiva, entrou na máquina e continuou a trabalhar. Parecia se exibir. Em mesmo ritmo trabalhava a enchedeira, reduzindo a fila de caminhões para carregar. Logo os caminhões começaram a fazer o caminho de volta na direção de Mossoró pela RN 117. O peso das carretas prejudica a pista de rolamento, que está afundando em vários trechos nas imediações das comunidades de Monte Alegre.
As carretas passaram pelo Posto da Polícia Rodoviária Estadual sem qualquer problema e se dirigiram na direção dos Abolições, em Mossoró. Um dos caminhões tinha a marca IM. O motorista não quis conversar com a reportagem. A areia foi depositada ao lado do Abolição III. Está sendo usada nas obras de saneamento básico. As informações é que a areia extraída em outros pontos é destinada à construção de prédios e depósitos de construção em Mossoró.

Outros pontos
Os moradores de Governador Dix-sept Rosado contaram ao De Fato que existe pelo menos outros cinco pontos de extração de areia na região que compreende entre a cidade de Governador e os limites com o município de Mossoró. Nestes locais, o DE FATO não encontrou trabalhos de extração de areia. Apenas enormes crateras abertas no leito do rio. Em alguns pontos, na comunidade de Monte Alegre, o trabalho aparentemente fez a retirada de areia com cuidados. Havia uma placa do IDEMA afixada com a ordem de autorização. Nos outros dois locais, que o acesso não é fácil, não havia plaquinhas de autorização.

Pesquisador da Ufersa vê dano ambiental com extração
O pesquisador da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Augusto Henrique Gonzaga da Silva, que monitora a qualidade da água, fauna e flora do rio Apodi Mossoró da fonte em Luis Gomes ao desaguar em Grossos, vê prejuízo ambiental com a retirada de areia do leito do rio em Governador Dix-sept Rosado.
Primeiro o pesquisador explicou porque a água do rio Mossoró em Governador de Dix-sept Rosado é limpa. "Existem vários afloramentos de água subterrâneos, que irrigam o rio Apodi Mossoró, perto de Governador Dix-sept Rosado", diz o pesquisador, lembrando que a liberação de água das comportas da barragem de Santa Cruz também contribui com a perenização do rio.
Sobre a retirada de areia, o pesquisador observou a necessidade de se fazer um estudo específico sobre o assunto. Entretanto, na realização das pesquisas já realizadas, apontou prejuízos consideráveis na população de peixes e na qualidade da água. A retirada de areia perto do barranco permite o assoreamento do leito do rio. "Já vi isto de perto. Qualquer coisa que acontece dentro do leito do rio modifica a qualidade da água e esta mudança reflete na água que chega a Mossoró. É preciso ter muito cuidado. Comunidades biológicas são afetadas. Tudo é afetado. Tem impactos ecológicos", explica o professor.
O professor opina que estas retiradas de areia deveriam ser autorizadas apenas depois da realização de estudos de impacto ambiental rigoroso, considerando as propriedades econômicas, sociais e principalmente ambientais.

ESTUDO 
O professor doutor Gustavo Henrique Gonzaga da Silva, com uma equipe de professores da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e outros da Ufersa, estuda o comportamento e a qualidade da água do rio Apodi/Mossoró no trecho de Luis Gomes, onde fica a nascente, ao município de Grossos, onde acontece o desaguar. As cidades de Pau dos Ferros e Mossoró são onde se apresentam os piores casos de poluição. E a cidade de Governador Dix-sept Rosado, mesmo sem ter saneamento básico, é onde o a água do rio Apodi/Mossoró apresenta-se limpa e potável, o que é explicado pelo fato da água ser subterrânea.

Fonte: Defato

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