Irmã adotiva dedicou vida a dom José

Filho mais velho de uma família de cinco irmãos, apenas duas irmãs vieram se despedir do único irmão que dedicou a vida exclusivamente ao sacerdócio. Maria do Socorro Freire não poupava lembranças ao memorizar a infância do irmão que desde a infância já demonstrava vocação pela religiosidade. "Somos de uma família toda católica, e quando ele decidiu seguir na Igreja, toda a família o apoiou", diz a irmã.

Entre sobrinhos, primos e a irmã, a maior saudade de dom José Freire será sentida por dona Terezinha de Oliveira Barra, uma prima que veio para Mossoró estudar e desde então dedicou toda a sua vida ao lado do irmão adotivo. Aos 73 anos de idade, ela dividia residência e a companhia e a atenção com dom José. "Era de uma organização extrema, muito amigo e próximo da família. Tinha o local certo para os livros, para o jornal e para a Bíblia", detalha ela.

Antes da morte, nenhum pedido foi feito à irmã, mas ela o entendia tanto que "não sei o que eu vou fazer com tudo que está na casa. Na verdade, não sei nem o que vai ser dos meus dias de hoje em diante", lamenta. Foi dona Terezinha quem socorreu o irmão quando percebeu a queda que ele sofreu no amanhecer do dia 31 de dezembro.

"Estava ao lado dele no dia da primeira missa. Vi ele conduzir a última celebração na capelinha que temos em casa, e agradeço a Deus por ter me dado força para levantá-lo quando caiu depois do AVC", descreve ela. O que será feito dos pertences pessoal de dom José ela ainda não sabe, mas deseja que "tudo permaneça no lugar, da forma como ele deixou em casa antes de sair".

A irmã, Maria do Socorro, traduz o sentimento da família enlutada com a expressão "cumpriu sua missão". Além dos três irmãos, dom José deixa em vida 10 sobrinhos espalhados por Mossoró, Natal, Rio de Janeiro e sua cidade, Apodi.

Dom José Freire teve um papel importante para a Igreja no Nordeste brasileiro. Em seu blog, o padre Talvacy Chaves destaca a atuação do sacerdote em um momento histórico do Brasil: "Ele é da geração dos bispos militantes da Igreja Pós-Conciliar, tinha opções eclesiais claras e causas nobres, ao lado de brilhantes figuras."

Entre os papéis mais importante na Igreja, dom José desempenhou o cargo de coordenador da Comissão de Catequese do Regional Nordeste II, da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Autoridades lamentam e destacam seu trabalho

Autoridades e membros da Igreja lamentaram a perda do bispo emérito dom José Freire de Oliveira Neto. Em nota, a governadora Rosalba Ciarlini manifestou tristeza e emoção e disse que "perdemos um grande pastor, um grande amigo, um grande cidadão potiguar. Dom José será lembrado e honrado pelo trabalho incansável na busca pela liberdade, paz, compreensão e respeito entre os homens. Que a semente de fé que nos deixou floresça em cada um dos nossos gestos. Que Dom Jose rogue por nós também na eternidade".

O presidente da Regional Nordeste 2 da CNBB, dom Genival Saraiva de França, também emitiu nota, na qual agradece a Deus o dom da vida, a vocação sacerdotal e o ministério episcopal de dom José Freire.

Ele relembrou as funções e a importância da figura de dom José: "Por muitos e proveitosos anos, exerceu o ofício de bispo diocesano de Mossoró, vivenciou a fraternidade e exercitou a colegialidade episcopal, particularmente, como bispo referencial da Pastoral da Catequese, com reconhecida competência e dedicação".

"Todavia, embora dom Freire revelasse esse lado autoritário de ser, ele tinha também seu lado humano e afetuoso. Era gostoso viajar com ele, visitá-lo em sua casa. Saber escutar e compreensivo eram duas virtudes que admirava em dom Freire", comentou o padre Talvacy Chaves em seu blog.

O vazio da perda de dom José também será fortemente sentido pelo padre Sátiro Cavalcanti Dantas, um colega de formação que viu todos os passos de dom José dentro da hierarquia da Igreja, juntamente com o padre Américo Simonetti, que também já morreu (aos 79 anos, em 2009).

Fonte: Defato