As denúncias chegam por todos os lados. Um técnico, que prefere não ser identificado, integrante da equipe de enfermagem do Pronto Socorro Clóvis Sarinho, no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, disse que está trabalhando em um completo caos. Apesar da palavra "caos" ser sempre usada para fazer referência ao hospital, dessa vez, a denúncia tem um agravante. Uma foto postada pelo médico Tiago Medeiros de Almeida na rede social Facebook, na última terça-feira, mostra dois pacientes se recuperando de uma cirurgia dentro do próprio Centro Cirúrgico do pronto-socorro. O Centro de Recuperação de Operados (CRO) estava lotado e não tinha onde colocar os pacientes.
reportagem do Diário de Natal escutou também alguns funcionários do setor. Foi dito que das cinco salas de cirurgia, três estão ocupadas com pós-operados. A informação foi confirmada pelo Sindicato dos Médicos (Sinmed) que ainda relatou a situação em detalhes,dizendo que existem 200 pacientes da ortopedia que precisam ser transferidos para rede privada.
Mais do que corredores e um CRO lotado, a falta de leitos na unidade chegou ao ponto de prejudicar o andamento das cirurgias do único hospital de urgência traumatológica do estado. O Centro Cirúrgico do Clóvis Sarinho tem cinco salas, segundo o enfermeiro, esta semana três delas ficaram com pacientes do pós-operatório. Alguns não saíram porque precisam de respiradores e mesmo que não necessitassem dos aparelhos, também não tinha nem marca para ficar no corredor.
Além da superlotação do único setor que não poderia ser lotado, o funcionário conta que muitos colegas estão adoecendo porque não conseguem tirar as horas de descanso durante os plantões. A equipe sempre desfalcada - muitas vezes em razão dos inúmeros atestados - faz com que os enfermeiros não consigam dar pausa no trabalho. "Faço um apelo, não por mim, mas pelos pacientes. Imagine você se recuperar de uma cirurgia em uma maca", declarou.
O presidente do Sinmed, Geraldo Ferreira, que trabalhou na unidade no último dia 28, não desmentiu em nada o funcionário. "Tem uma sala que funciona fixa como de recuperação. Além dela, no dia que eu estava tinham mais duas ocupadas com pacientes nos respiradores", lembra. Geraldo diz que a direção do hospital tem procurado com freqüência o sindicato para mostrar os problemas que estão acontecendo na unidade. E foi pela direção que o médico ficou sabendo dos 200 pacientes - fora os que foram transferidos esta semana - que aguardam (em casa e no hospital) para serem encaminhados aos hospitais privados e realizarem as cirurgias ortopédicas.
Leitos insuficientes
De acordo com o presidente do Sinmed, apesar da paralisação dos serviços da Cooperativa dos Médicos do RN (Coopmed) e da Cooperativa de Anestesiologias do RN (Copanest) ter prejudicado o andamento das cirurgias eletivas - que no caso da ortopedia são realizadas logo após o atendimento de urgência - o principal motivo da superlotação não é esse. "Existe a necessidade urgente de mais leitos", reforça Geraldo.
Na opinião dele, o Governo, que precisa criar mais leitos, fez algumas modificações que só pioraram a rede de atendimento. Ele cita o fechamento do Hospital de Macaíba para reforma, entrega do hospital de Assu ao poder municipal, transferência dos atendimentos de Currais Novos para Caicó sem bons resultados, entre outras mudanças. Em Mossoró, boa parte dos pacientes é encaminhada para Natal, e as gestantes estão sendo enviadas ao Ceará em razão da crise nos hospitais regionais.
O problema da rede de atendimento no interior - que gera uma superlotação em Natal, agravada pela greve dos médicos - e que fomenta o caos no Walfredo, também culmina no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Na porta do hospital, é comum a presença de ambulâncias esperando as macas que ficam presas por falta de leitos.
Para minimizar os problemas, além do orçamento mensal de R$ 10 milhões destinado pelo Governo do Estado, o Walfredo aguarda uma portaria do Ministério da Saúde que liberará verba para comprar e instalar uma ressonância magnética. "Serão R$ 3 milhões para essa ressonância magnética, e mais R$ 1,5 milhão para aquisição de outros equipamentos. Isso vai ajudar a desafogar um pouco o hospital. Estamos só aguardando o retorno do recesso do Ministério da Saúde para que seja publicada a portaria no Diário Oficial da União", comentou Domício Arruda, titular da Sesap.
Ajuda para o hospital não tem data
Em novembro do ano passado, o Walfredo recebeu a visita do secretário nacional de Atenção à Saúde, Helvécio Magalhães, que garantiu o credenciamento da unidade hospitalar no programa federal SOS Emergências, a estratégia do Ministério da Saúde (MS) para qualificar a gestão e o melhorar o atendimento prestado nessa área a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Na época foi anunciado que serão credenciados mais 100 leitos de retaguarda, a partir de janeiro de 2012 para desafogar o hospital, que é a maior unidade de saúde do Rio Grande do Norte.
Por enquanto a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) aguarda uma definição do Ministério da Saúde. Desde o lançamento pela presidente Dilma Rousseff - também em novembro - até agora, onze hospitais de urgência e emergência constam da lista de unidades beneficiadas em todo o Brasil. No Nordeste, apenas Salvador (BA), Fortaleza (CE) e Recife (PE) foram incluídas. "Por enquanto estamos aguardando o cumprimento da promessa. Temos notícias de que o Hospital Santa Marcelina, em São Paulo (SP), já está recebendo recursos da ordem de R$ 3 milhões", afirmou Domício Arruda, secretário estadual de saúde.
Prometido para janeiro, o benefício não tem data para chegar, mas deve ser o mais breve possível, acredita o secretário. "O compromisso foi feito. O governo federal prometeu incluir 40 hospitais no SOS Emergências. Certamente estaremos incluídos nessa lista", afirmou Domício. Ele afirmou que se a lista for menor, o HWG será contemplado. "Estamos certamente entre os 20 próximos beneficiados".
Fonte: DN
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