Um novo projeto de irrigação para o Apodi deverá ser apresentado em Brasília no próximo dia 21. Contra o planejamento do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) para a Chapada do Apodi, que irá desapropriar 13.855,13 hectares na região, membros dos movimentos sociais irão até o Governo Federal, por intermédio do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para tentar viabilizar outra proposta para região. A ideia encabeçada pelo professor doutor em Recursos Hídricos, João Abner, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), é de um projeto de irrigação para o Vale e não para Chapada Apodi.
"Há três meses recebi o convite do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apodi, que pediu minha presença em um evento", explicou o professor sobre seu ingresso no debate. Segundo ele, os trabalhadores foram até o Ministério da Integração contestar o projeto do Dnocs e foi pedida uma outra sugestão, surgindo assim a necessidade de um especialista. Defensor da ideia de irrigação do Vale desde que foi presidente do Instituto de Gestão das Águas do Estado do Rio Grande do (Igarn), na primeira gestão da ex-governadora Wilma de Faria, João Abner apresenta argumentos econômicos, ambientais e físicos para o projeto da Chapada não ser feito.
O professor explica que quando foi inaugurada em 2002, o Governo viu a necessidade de utilizar melhor as águas da barragem de Santa Cruz, e assim teria sido iniciado o projeto de irrigação do Vale. O primeiro fator positivo é o fato do Vale estar 10 quilômetros abaixo da barragem e poder oferecer água por gravidade para duas mil famílias. "Esse pessoal tem experiência de irrigação há 50 anos, são pequenas propriedade, é só construir a encanação e distribuir a água. É potencializar a experiência existente", salientou.
Na opinião do especialista, o Dnocs está propondo mais um perímetro irrigado que pode ser tecnicamente inviável. O principal problema é a falta de água da barragem, que tem disponibilidade de 4 metros cúbicos por segundo - vazão insuficiente para os planos do Dnosc, segundo Abner. Um desses metros deve ser comprometido com consumo humano e o outro com a vazão ecológica. Os dois restantes nas contas de João Abner são suficientes para irrigar de dois a três mil hectares. O projeto do Dnocs prevê um total 13.855,13 hectares, sendo 5.200 hectares apenas na primeira etapa.
O professor também alega que outra fator negativo é o "custo da água". Os pequenos produtores não teriam como pagar pelo consumo de energia das máquinas de irrigação. De acordo com João Abner, o Dnocs tem um perímetro irrigado em Pau dos Ferros que não produz por falta de condições financeiras dos agricultores. "Acima de 60 metros de desnível é inviável a irrigação. No caso da Chapada são 80 chegando a 100 metros em alguns pontos", apresentou mais um argumento o professor.
Questão política
Questionado sobre o fato da disputa do projeto ser política, João Abner afirma que isso não está acontecendo. "Em toda reunião que eu participei tem uma preocupação com essa questão. O que nós precisamos é convencer o Governo e o próprio PMDB, porque eu acho que o que todo mundo quer é o desenvolvimento da região", justifica. O PMDB citado pelo especialista seria responsável pelas indicações do Dnocs. Já os trabalhadores da região contam com o apoio do Movimento dos Sem Terra (MST), Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do RN (Fetarn), e de lideranças políticas do PT, entre outros.
Essa semana o arcebispo Metropolitano de Natal, Dom Matias Patrício de Macedo e mais três bispos se mostram descontentes com o projeto, que na opinião deles, irá prejudicar as famílias locais e o meio ambiente. Os religiosos publicaram uma carta manifestando sua insatisfação com o projeto.
Fonte: DN
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