Esta quarta-feira, 21 de dezembro, poderá ser o último dia de Dom Matias Patrício de Macedo como Arcebispo da Arquidiocese de Natal. É que todas as quartas-feiras o Vaticano anuncia as mudanças que serão feitas nas paróquias em todos os lugares do mundo, e desde abril, quando o religioso completou 75 anos, Dom Matias espera uma resposta do Papa Bento 16 apontando o nome do seu substituto. Conforme o Direito Canônico, que norteia as leis da Igreja Católica, o bispo é convidado a renunciar ao seu cargo aos 75 anos. O arcebispo foi rápido para informar ao Vaticano sobre sua aposentadoria da administração da Diocese, mas o Papa parece não ter pressa na indicação do seu sucessor.
A carta foi enviada ao Papa no dia 14 de abril deste ano, data do aniversário de Dom Matias. "Eu aguardo uma resposta do Papa Bento 16. O que não tem tempo determinado para acontecer", explicou o arcebispo. Dom Matias não está totalmente sem resposta, de forma resumida, o documento recebidodo Vaticano indiretamente pediu calma ao religioso, que continua exercendo suas funções normalmente. Até mesmo quando deixar a administração da Arquidiocese de Natal, ele pretende continuar com as missas e demais atividades. "Estou tranquilo com essa mudança. Isso era uma situação prevista, eu sempre soube que deixaria de ser arcebispo quando tivesse 75 anos", declarou.
Em janeiro, Dom Matias tem mais um aniversário: oito anos a frente da Arquidiocese. Antes de chegar à capital potiguar, o bispo estava atuando em Campina Grande. Ele explica que necessariamente o novo arcebispo não precisa ter nascido no Rio Grande do Norte. É necessário apenas ser bispo e ter experiência de Diocese. Dom Matias é natural de Santana dos Matos, mas foi criado em Angicos, e só chegou a Natal por volta dos 13 anos, após o convite de um vigário de sua cidade para entrar no Seminário São Pedro. O adolescente não aceitou o convite imediatamente. De forma estratégica, para saber como era a vida em um Seminário, ele incentivou um amigoa se matricular e só depois veio para a capital.
"A minha família era muito simples [a mãe teve 16 filhos] e meu pai via no filho mais velho um ajudante. Ele chegou a conversar com o padre porque ele não tinha condições de arcar com as despesas", disse o arcebispo sobre o posicionamento contrário do pai a sua opção de estudar em Natal. O filho de uma dona de casa com um pequeno comerciante lembra que estudar na capital era algo para os ricos. A sua saída do lar foi considerada um prejuízo financeiro pelo pai, já que o filho mais velho não poderia ajudar no comércio.
Dom Matias diz que com o tempo o pai ficou orgulhoso da sua decisão e que o restante da família nunca se mostrou contrária. "Depois ele falava para todo mundo do filho que era padre", contou sorrindo o religioso. A simpatia de Dom Matias é um dos traços que chama mais atenção na sua personalidade de gente simples, humilde, ao ponto das pessoas esquecerem que estão conversando com um membro de extrema representatividade para a Igreja.
Trajetória
Matias Patrício iniciou sua trajetória ajudando ao padre da cidade de Ceará-Mirim, onde ficou por três meses, até ser nomeado para vigário de Canguaretama e Pedro Velho, mas sua história mais longa foi em Nova Cruz. Foram 22 anos atendendo o município e mais três cidades próximas. Foi em Nova Cruz que Dom Matias se ordenou bispo. Depois foram 10 anos em Cajazeiras e três anos em Campina Grande, ambos municípios da Paraíba, até ser chamando para Arquidiocese de Natal.
Crescimento e mudanças de comportamento
Assim como em outras épocas, o contexto do mundo reflete na conduta da Igreja. São novas formas de evangelizar, outros conceitos e, mais do que tudo, pessoas com pensamentos diferentes. Dom Matias diz que as modificações no mundo católico ultrapassam a forma de comportamento dos fiéis e alcançam a estrutura da Igreja. É o caso do número de padres, por exemplo, que cresceu expressivamente nos últimos anos. Atualmente as Arquidioceses do Rio Grande do Norte somam 160 padres. "A população aumentou, mas esse número é bem maior que antigamente", lembra. E apesar do crescimento a quantidade ainda é considerada insuficiente. A Arquidiocese Metropolitana de Natal, que compreende o montante de 88 municípios, precisa de pelo menos 50 padres.
O arcebispo acredita que boa parte das mudanças na comunidade católica começou após o Concílio Vaticano II, no ano de 1963, quando a missa deixou de ser em Latim e passou a ser celebrada na língua do próprio país. Foi nessa mesma época que se iniciou as renovações carismáticas e surgiram os novos grupos católicos. "É uma forma diferente de evangelizar. Nós vemos uma efervescência maior. Eu só tenho medo que fique só no pulo, mas vale a pena", opinou sobre a metodologia de alguns padres para atrair o público por meio de canções que fogem do tradicional rito da Igreja.
Sobre o crescimento acelerado das Igrejas Evangélicas, o bispo afirma que existe um respeito, embora ele não veja positivamente essa proliferação. "Essa efervescência de outras Igrejas a gente respeita, mas não é por ai", opina. Mesmo discordando de algumas condutas, Dom Matias ressalta que uma das coisas que hoje a Igreja Católica exige é a capacidade de diálogo. Hoje católicos e evangélicos se unem em torno do ecumenismo. "A gente se une naquilo que a gente tem em comum. Para os dois, Jesus Cristo é quem salva. Já quando parte para Nossa Senhora, a opinião muda", disse, de forma espontânea o arcebispo.
Fonte: DN
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