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sexta-feira, novembro 25, 2011

Tribunal do Júri absolve policial acusado de matar menino João Roberto no Rio

Com o placar de 5 votos a 2, depois de mais de sete horas de julgamento, ex-policial militar Elias Gonçalves da Costa Neto foi absolvido, na noite desta quinta-feira (24), no Rio de Janeiro, pela morte do menino João Roberto Amorim Soares, ocorrida em 2008. A decisão é do 2º Tribunal do Júri do Rio. 

Caso gerou comoção em 2008; relembre


O crime aconteceu na Tijuca, na zona norte da capital fluminense. Dois policiais fizeram 17 disparos contra o carro onde o menino, de 3 anos, estava com a mãe e o irmão mais novo, de 9 meses. João Roberto foi morto ao ser atingido por um tiro na nuca.
Durante todo o julgamento de hoje, o policial negou as acusações e disse que deu apenas um tiro em direção ao chão.
O defensor público Marcelo Machado Fonseca fez questão de pedir a absolvição do réu ao júri como um pai de três filhos, e não como agente do Estado.
“Peço a vocês como pai, e não como defensor, com o coração. Temos uma morte irreparável, mas temos um pai inocente, o senhor Elias”, disse o defensor, que afirma ter se baseado nos autos para sustentar a sua defesa.
Como testemunhas foram ouvidas a mãe do menino, Alessandra Amorim, e o coronel da PM Rogério Luiz Leitão, que na ocasião do fato era o Relações Públicas da corporação. “Não existe um bandido que valha a vida de um inocente. “Mesmo que (os bandidos) estivessem no carro, tal atitude é reprovável. Policial não tem o direito de matar, salvo se ele estiver na eminência de agressão, em legítima defesa”, disse o militar.
A defesa, durante o julgamento, chegou a apresentar um documento de retirada de munição do 6º BPM, local onde o policial era lotado. Tal informação era novidade até então. Segundo o registro de movimentação na Reserva Única de Material Bélico do batalhão, Elias pegou 21 munições de pistola .40 e utilizou apenas um projétil. Já o outro policial da ação, Willian, pegou 17 de pistola .40 e utilizou cinco; na metralhadora M16, ele solicitou 44 projéteis de 556 e utilizou 16.
A defesa também criticou a imprensa. “Só trabalho com as provas dos autos. A verdade incomoda. A imprensa faz juízo de valor sobre o que não conhece. Solicitaram entrevistas, mas eu me neguei a falar, não preciso de imagem. Apaguem tudo o que vocês ouviram sobre esse julgamento, temos que raciocinar” disse o defensor. Elias comemorou a decisão. “Graças a Deus deu tudo certo”, disse o acusado ao sair do tribunal.
O promotor de Justiça Riscalla João Abdenur ironizou, durante o julgamento, as declarações da defesa e a comparou com uma novela. “Não se pode olhar para ele (Elias), que chora hoje. Tem que se olhar para a família que não tem mais o filho também. A defensoria escreveu uma novela aqui hoje” disse Abdenur, que desejava que os dois policiais fossem julgados juntos. “Eu fiz de tudo para julgar eles (sic) juntos, mas a defesa não aceitou”.
“A mãe, na ocasião do crime, deu passagem à patrulha da polícia. Entretanto, o carro parou por atrás do veículo das vítimas e disparou diversos tiros, matou o menino e causou ferimento na mãe. Não podemos deixar passar que uma mãe perdeu um filho nesse ocorrido”, disse o promotor, antes da sentença ser proferida.
A decisão abre precedente para que Elias possa ser inserido na corporação novamente. Entretanto, cabe recurso.
Entenda o caso
O menino de 3 anos foi morto ao ser atingido na nuca por disparos feitos pelos policiais. O carro em que ele estava com a mãe e o irmão mais novo foi alvejado na noite de 6 de julho. Os responsáveis pelos tiros foram o cabo William de Paula e o soldado Elias Gonçalvez da Costa Neto, que afirmaram ter confundido o veículo da família com o carro de bandidos que perseguiam.
Em entrevista coletiva dias depois do crime, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, chamou os policiais de "débeis mentais" e classificou a ação como uma atrocidade. João Roberto teve morte cerebral e a família autorizou a doação dos órgãos. Um menino de 13 anos recebeu suas córneas.
Em julgamento ocorrido em 2009, o outro policial envolvido no crime, William de Paula, foi absolvido pelo juiz Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez do crime de homicídio. Ele, no entanto, recebeu uma pena de sete meses de prisão por lesão corporal leve contra a mãe de João Roberto, Alessandra Amorim Soares, e o irmão. O Ministério Público recorreu e o ex-militar deve ser julgado novamente pela Justiça.
"Alvo dos tiros era o meu carro"
A mãe de João Roberto afirmou, durante julgamento do primeiro policial, que o alvo dos tiros era seu carro. "Quando entrei na rua Espírito Santo Cardoso, já na Tijuca, passou por mim um carro de cor escura em alta velocidade, que acabou batendo em outro carro que estava parado no sinal. Vi pelo retrovisor que uma viatura da polícia se aproximava também em alta velocidade", afirmou Alessandra Amorim Soares. "Então, eu liguei a seta e encostei o carro para dar passagem à polícia. Virei para trás e pedi para o João Roberto se abaixar e também me abaixei com meu outro filho, Vinicius."

"O João se levantou e perguntou 'porque, mamãe?' e eu gritei 'abaixa, abaixa', porque tinha começado a ouvir tiros, mas quando olhei para trás de novo ele já havia sido baleado", contou Alessandra. "Abri, então, a porta do lado do carona e joguei uma bolsa de criança para fora, para mostrar que havia crianças no carro, pois naquela hora eu já tinha percebido que o alvo dos tiros era o meu carro."

Alessandra afirmou ao júri que quando saiu do carro, William de Paula se aproximou perguntando "cadê o cara? Cadê o cara?". Então a mãe teria respondido que não havia "cara nenhum" e que seu filho estava baleado.

Fonte: Portal Uol

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