Uma multidão de fiéis em busca de um milagre, de uma graça, de paz de espírito. Por quase duas horas milhares de pessoas rezam, cantam e meditam juntas. Emoção e fé. Esse é o retrato da missa de cura e libertação que acontece há 10 anos na paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Neópolis, e atrai cerca de duas mil e quinhentas pessoas em cada celebração. As ruas no entorno da paróquia precisam ser fechadas neste dia porque o prédio da igreja há muito tempo não comporta o número de fiéis. Pessoas de todas as idades: de idosos a crianças de colo; homens, mulheres; moradores de cidades do interior, muitos dos participantes vêm de longe, exclusivamente para a missa. Faltam palavras para definir o que é a missa de cura. O comerciante Fabio Teixeira, de 45 anos, tenta: "É um fenômeno".
A equipe do Diário de Natal acompanhou a missa das 17h na última quarta-feira. Ao chegar à igreja, por volta das 16h, a surpresa: não havia sequer um lugar vago nos bancos da paróquia. Os degraus do altar também já estavam tomados pelos fiéis. Nos corredores, pessoas com banquinhos e cadeiras trazidas de casa. Já era difícil circular dentro da igreja. A professora aposentada Socorro Nicolau da Costa, de 65 anos, estava sentada na terceira fila de bancos. Para conseguir o lugar, ela chegou às 14h. E de onde ela veio? De Santo Antônio do Salto da Onça, cidade a 70 quilômetros da capital. "Eu comecei a vir para esta missa há quatro meses, quando perdi minha mãe. Preciso me libertar dessa angústia da perda e aqui eu encontro muita paz. A viagem até aqui é um detalhe perto da benção que é essa missa", disse.
A celebração é conduzida pelo padre Antonio Nunes e alterna momentos de entusiasmo e emoção. A multidão canta junto e também chora junto. No momento da homilia as pessoas parecem assimilar cada palavra do sacerdote, dentro ou fora da igreja, todos se concentram no discurso. "Nas outras missas o sermão do padre é diferente, parece que é cansativo, aqui não. O padre Nunes faz a gente refletir, o queele fala engloba os problemas de todo mundo. Sempre que eu venho parece que ele está fazendo o sermão para mim", disse a estudante Analia Luana Sena Souza, de 21 anos.
O empresário Alexandre Siqueira Concentino, 31 anos, concorda. "O padre Nunes tem o dom de tocar as pessoas com a palavra de Deus. Ele fala exatamente o que a gente precisa ouvir naquele momento. É emocionante, a gente espera o mês todo para vir de novo", disse. O empresário não conseguiu um lugar dentro da igreja e estava na rua lateral com o filho de 4 anos e a esposa Isabelly Cocentino, 31. "Mesmo aqui do lado de fora a gente sente a presença do Espírito Santo, é algo inexplicável o que a gente sente nessa missa".
No momento da comunhão filas enormes se formam dentro e fora da igreja e os ministros da eucaristia se espalham nos corredores, nas portas laterais, e até nas calçadas, para conseguir atender todos os fiéis. Os cânticos, presentes em quase todos os momentos da missa, são tidos como um diferencial. "Essa missa é muito linda, as músicas tocam no coração da gente, é impossível não se emocionar", disse a aposentada Maria de Lourdes Varela Santos, 65.
A descontração fica por conta do próprio padre Nunes, que com uma linguagem simples conversa e até brinca com os presentes. "Eu sempre vejo pela cidade uns carros com aquele adesivo em que está escrito 'foi Deus que me deu'. É mentira!", disse, arrancado risos dos fiéis. "Por que Deus ia dar para um e não ia dar para o outro? Não foi Deus que te deu, foi você que trabalhou e conquistou esse carro. Deus abençoa a todos, mas uns podem dizer sim e outros não. Tudo depende da forma como você aceita essa benção", concluiu.
Espaço para os sinais
O ápice da celebração é o momento em que o padre "passeia" com a hóstia consagrada - que para os católicos é o corpo de Cristo - entre os fiéis. Nesta hora, as pessoas apresentam fotografias, chaves, carteiras de trabalho, exames médicos, em busca de uma benção. O próprio padre explica o significado desses objetos. "A liturgia abre espaço para os sinais, aquilo que possa expressar alguma ligação de vida. A chave, por exemplo, lembra o lar, a família, que a gente tanto pede que Deus liberte dessas ondas de violência, drogas, bebidas, e tudo aquilo que tem destruído os valores da família. As fotos representam aquela pessoa que está precisando de oração, mas que por alguma razão não pode vir à missa, então a gente coloca essas pessoas nas mãos de Deus".
Muito emocionada, a agente de saúde rezava enquanto erguia uma foto do sobrinho. "Ele está passando por uma fase difícil e não pôde vir à missa, então essa foi a forma que eu encontrei de ajudá-lo a receber essa benção", disse.
Freqüentadores falam das graças alcançadas
Nos 10 anos de existência da missa de cura e libertação da paróquia Nossa Senhora Aparecida não faltam testemunhos de graças alcançadas e atribuídas à força da celebração. Amanda Kayonara, de 28 anos, passou a missa inteira com o filho Gabriel, de 10 meses, no colo. Ela diz que freqüenta a missa há mais de dois anos e só falta quando está "doente que não possa se levantar da cama". Trazer o filho, mesmo tão pequeno, tem um significado especial para ela. "Quando eu estava grávida foi constatado que eu tinha toxoplasmose e, se meu bebê fosse infectado poderia ter problemas como paralisia cerebral, surdez e cegueira. Eu vinha na missa e trazia os meus exames e pedia a Deus que meu filho não fosse infectado. Quando o Gabriel nasceu ele fez todos os exames e estava tudo bem, ele não tinha a doença", disse, emocionada.
O próprio padre Nunes tem conhecimento de muitos testemunhos. Um dos mais marcantes para ele foi o de uma mãe que o procurou para dizer que tentava engravidar há anos e, apesar de todos os tratamentos realizados, nunca conseguiu. "Então nós celebramos a missa nessa intenção e fizemos uma corrente de orações aqui na igreja. Alguns meses depois ela voltou, grávida, já com a barriga bem grande, para nos agradecer. O filho dela foi batizado aqui na igreja", contou.
A aposentada Severina Martins da Silva, 87, estava na missa da última quarta-feira confiante de que ali encontraria a solução para sua dor na perna. "Eu já fiz todos os exames que você imaginar, mas os médicos não sabem o que é essa dor na minha perna. Eu ando com dificuldade e quase não saio de casa por causa dessa dor, não tem remédio que dê jeito. Eu tenho fé em Deus e em Nossa Senhora de Fátima que com a força dessa missa minha dor vai melhorar", disse.
Neste fim de semana os estudantes realizam as provas do vestibular da UFRN e isso levou muitos deles à missa de cura e libertação. Foi o caso de Natali Muller, 17, que irá fazer a prova para o curso de Design da UFRN. Ela não freqüenta missas normalmente, mas acredita que o esforço dela nos estudos aliado à fé em Deus e à força da celebração irão ajudar.
Fonte: DN
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