O corpo do maquinista Ricardo de Oliveira Dias, de 45 anos, acusado de matar o colega de trabalho Marco Antonio da Silva, de 51, foi encontrado pela Polícia Militar na tarde desta quinta-feira (29), na Rodovia Anhanguera, no município de São Simão, no interior de São Paulo.
Imagem mostra maquinista Ricardo de Oliveira Dias fugindo com arma de fogo em SP — Foto: Arquivo Pessoal
A motocicleta usada na fuga e uma pistola foram apreendidas no local. O boletim de ocorrência está sendo registrado na delegacia de São Simão, que ficará responsável por investigar as circunstâncias da morte, segundo a Secretaria da Segurança Pública.
O pai do maquinista afirmou, anteriormente à polícia, que o filho ligou para ele após o crime e admitiu que "havia feito besteira".
Moto usada na fuga foi encontrada pela PM — Foto: Arquivo
Uma das hipóteses investigava pela polícia é a de que o maquinista tenha cometido suicídio.
O colega dele, Marco Antonio, foi velado e enterrado na manhã de terça-feira (27) no Cemitério Municipal Bela Vista, em Osasco, Grande São Paulo. Ele era supervisor de tração e trabalhava na CPTM desde 2012.
Além de Marco, Ricardo também disparou contra outro funcionário, de 53 anos, que ficou com ferimentos no pé. A motivação está sendo investigada, mas testemunhas relataram ao g1 que o crime foi por motivo banal e que os envolvidos não tinham desentendimentos anteriores.
No depoimento, o pai relatou que Ricardo saiu para trabalhar normalmente no último domingo (25), por volta das 11h, com sua moto Yamaha YBR. Porém, por volta das 17h, telefonou pedindo para que o pai pegasse dinheiro e colocasse o dinheiro na conta de seu irmão.
Depois, o maquinista contou ao pai na ligação que "havia feito uma besteira", dizendo que estaria sendo humilhado por alguns colegas de trabalho e que eles o teriam ameaçado de morte, por isso "não teria aguentado e metido bala", desligando o telefone em seguida.
Conforme o pai, ele só soube que o filho havia atirado contra dois colegas do trabalho depois que policiais militares e guardas ferroviários foram até sua casa, e informou que não tinha conhecimento do paradeiro do filho.
Ainda segundo o depoimento, o pai de Ricardo também afirmou à polícia que seu filho recentemente ficou afastado alguns dias da CPTM por problemas psicológicos, tendo retornado na última semana. Porém, teria pedido para ser afastado novamente para se submeter a mais tratamento psicológico.
O pai contou que o pedido teria sido recusado e que Ricardo comentou que chegou a pedir que fosse demitido, mas não teriam aceitado.
A CPTM, em nota, informou que "lamenta todas as circunstâncias da ocorrência da tarde do último dia 25/06, na Estação da Luz. A companhia continua colaborando com a autoridade policial para descobrir a motivação do crime e elucidar o caso".
Milhares de munições
A Polícia Civil apreendeu milhares de munições de diferentes calibres na casa do maquinista na segunda-feira (26). Elas foram achadas no quarto de Ricardo.
O pai disse à polícia que não tinha conhecimento de que o filho tinha arma de fogo e que ele nunca comentou sobre gostar de atirar ou frequentar clubes de tiro, pois "era fechado".
Ainda de acordo com a polícia, além de cumprir mandado de busca e apreensão na casa dele, em São Paulo, também foram cumpridos mandados na casa de parentes em Pouso Alegre, Minas Gerais na segunda.
A delegada responsável pelo caso, Maria Cecilia Castro Dias, informou à TV Globo que o maquinista era ex-PM, mas não tinha porte para arma de fogo e munição.
Milhares de munições foram achadas no quarto do maquinista que matou colega de trabalho em SP — Foto: Divulgação/Polícia Civil
Vídeos após o crime
Vídeos enviados ao g1 mostram momentos após Ricardo atirar contra dois colegas de trabalho. Nas imagens, é possível ver Marco caído e recebendo socorro de outros funcionários antes de ser encaminhado à Santa Casa.
Também é possível ver o segundo funcionário baleado caído em uma esquina e cercado de outros colegas de trabalho.
Uma imagem enviada ao g1 e que circula nas redes sociais também mostra o maquinista fugindo da estação com a arma de fogo na mão.
Vídeo mostra funcionários da CPTM após serem baleados por colega de trabalho — Foto: Reprodução/TV Globo
'Quero ver você tirar sarro'
Testemunhas relataram que o maquinista da CPTM que matou o colega de trabalho disse, antes de atirar em Marco: "Eu quero ver você tirar sarro". A informação consta no boletim de ocorrência e também foi relatada ao g1.
"Os maquinistas estavam em uma sala, quando Ricardo chegou com a arma escondida em uma mochila. Então, ele foi perto do Marco e falou 'eu quero ver você tirar sarro' e aí atirou. Os que estavam no local e viram a cena me disseram que foi uma correria e gritaria. Alguns se esconderam no banheiro e em salas. Foi um desespero", afirmou um funcionário da CPTM que preferiu não se identificar.
Cápsulas foram achadas na sala de maquinistas da Estação da Luz — Foto: Arquivo Pessoal
De acordo com o boletim de ocorrência, um maquinista relatou à polícia que viu quando Ricardo entrou com uma mochila na frente do corpo na sala dos funcionários, e em certo momento, ele pegou a arma e efetuou o disparo.
Ainda conforme a testemunha, Marco chegou a sair correndo no sentido da plataforma 4. Depois, Ricardo disparou contra o outro funcionário que estava correndo em direção ao estacionamento.
'Tragédia podia ser maior'
O que diz a CPTM
Em nota anterior, a CPTM informou que acionou a Polícia Militar, que vai colaborar com a autoridade policial e que está prestando assistência para familiares do supervisor morto e do maquinista ferido. Nas redes sociais, a empresa se manifestou sobre o caso:
"Lamentamos profundamente a trágica perda de um dos nossos colegas de equipe em um ato de violência chocante ocorrido ontem. Estamos de luto pela vida que foi tragicamente interrompida e nos solidarizamos com a família, amigos e colegas que estão sofrendo com essa terrível perda. É momento de nos unirmos enquanto enfrentamos essa perda devastadora como uma comunidade. Descanse em paz, nosso querido colega. Você será lembrado com carinho e saudade".
Estação da Luz, SP — Foto: Reprodução/TV Globo
O que diz o sindicato
O presidente do sindicato dos ferroviários, Eluiz Alves de Matos, afirmou que Ricardo não tinha histórico de violência.
"Temos informações dos companheiros de trabalho, que era uma pessoa tranquila no ambiente de trabalho. Aconteceu uma tragédia, um fato atípico no nosso meio. Defendo que a CPTM ofereça auxílio psicológico para todos que presenciaram."
Funcionário da CPTM é morto por colega de trabalho em SP — Foto: Reprodução/TV Globo
Fonte: g1