A maior parte dos candidatos ligados a Jair Bolsonaro (PL) que lideram pesquisas de intenção de voto aos governos estaduais do Nordeste não destacam o presidente em suas campanhas. A região é a que Bolsonaro vai pior no país enquanto Lula lidera em todos os estados, segundo as pesquisas de intenção de voto.
O presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto em 4 de agosto de 2022 — Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
Cinco políticos alinhados a ele estão na liderança na eleição de 2022, segundo as pesquisas Ipec nos estados: Capitão Wagner (União Brasil-CE) Fernando Collor (PTB-AL), Sílvio Mendes (União Brasil-PI), Valmir de Francisquinho (PL-SE) e Weverton Rocha (PDT-MA).
Deste grupo, apenas o ex-presidente Collor se vincula de modo explícito à figura de Bolsonaro. Para especialistas, isso se explica em razão do mau desempenho do presidente no Nordeste.
Bolsonaro aparece nas peças de campanha e nos discursos de Collor, 2º colocado ao governo alagoano, segundo o Ipec. No estado, Bolsonaro possui 30% e Lula, 54%.
Ao longo do ano, Collor viajou ao lado do presidente para inauguração de obras e se associa a sua imagem em busca do Executivo de Alagoas – estado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), aliado de Bolsonaro.
Alagoas está entre as unidades da federação mais beneficiadas pelos recursos do chamado orçamento secreto (verbas destinadas sem transparência por parlamentares a suas bases eleitorais), segundo dados da Câmara dos Deputados enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Os outros quatro candidatos têm feito campanha em seus estados sem destacar a proximidade com Bolsonaro, seja nos materiais visuais da propaganda eleitoral ou em seus discursos.
Capitão Wagner liderava as intenções de voto no Ceará até a última pesquisa Ipec. O PM da reserva recebeu apoio de Bolsonaro na eleição de 2020, quando ficou em segundo lugar para a Prefeitura de Fortaleza. Agora, Wagner não inclui imagens ou falas do presidente em suas agendas. Bolsonaro soma 19% das intenções de voto a presidente no Ceará, seu pior desempenho na região.
Sílvio Mendes tanto tenta se descolar de Bolsonaro que sua campanha buscou se colar à imagem de Lula (PT), rival de Bolsonaro na eleição nacional – estratégia barrada pela Justiça eleitoral. Jair Bolsonaro defende a apoiadores o nome de Mendes como seu candidato no Piauí, estado no qual 20% dos eleitores escolhem Bolsonaro para presidente e 61% optam por Lula.
Em Sergipe, Valmir de Francisquinho está inelegível segundo a Justiça e tenta reverter a situação a tempo da eleição. Pesquisa Ipec o coloca na liderança das intenções de voto, com 38%. Na campanha, Francisquinho dispensa se ligar à imagem de Bolsonaro, presidenciável com 26% das intenções de votos locais, enquanto Lula soma 56%.
Weverton Rocha é um caso à parte neste grupo . O político historicamente se posiciona contrário a Bolsonaro, mas conta na sua coligação com o PL, que é a sigla do presidente da República e do seu vice, Helio Soares. Rocha ocupa a segunda posição nas intenções de voto medidas pelo Ipec, com 20%.
Bolsonaro admite em suas lives não ter um candidato em palanques no Maranhão. Com o PL em seu apoio, Rocha é a candidatura com maior proximidade ao presidente, mas não há esforço para criar laços ou puxar votos para a campanha nacional. No estado, o presidente possui 19% das intenções de voto, com Lula escolhido por 67%.
Rocha é filiado ao PDT, partido de Ciro Gomes, mas não defende abertamente a candidatura do ex-governador do Ceará, ao contrário: além de ter o PL de Bolsonaro em sua chapa, Weverton Rocha demonstrou em entrevista recente seu alinhamento a Lula.
Apoio explícito dos azarões
Jair Bolsonaro recebe apoio explícito de outra parcela de seus candidatos: aqueles que estão em 3º lugar ou abaixo nas pesquisas de intenção de voto. Há cinco candidatos nessa situação: Nilvan Ferreira (PL-PB), João Roma (PL-BA), Coronel Diego Melo (PL-PI), Fábio Dantas (Solidariedade-RN) e Anderson Ferreira (PL-PE).
O quinteto vincula suas candidaturas ao nome do presidente e formam unanimidade para tentar aumentar seu eleitorado de forma local com base no bolsonarismo.
Na Paraíba, Bolsonaro possui 25% das intenções de voto (Lula acumula 61%), enquanto Ferreira está com 14% ao governo do estado.
A situação é similar à da Bahia: João Roma têm 7%, percentual que é de 20% para Bolsonaro (Lula soma 61%) no nacional.
Fábio Dantas tem o desafio de subir dos 8% na pesquisa Ipec, que o coloca em terceiro lugar no Rio Grande do Norte. A meta é chegar próximo dos 27% que Bolsonaro soma na disputa à Presidência (Lula tem 56%).
No Piauí, a situação de Coronel Diego é mais complexa: com 3% na eleição estadual, ele disputa para se aproximar dos 20% de eleitorado potencial que Bolsonaro tem na nacional – adversário do atual presidente, Lula é escolhido por 61%.
Anderson Ferreira (PL) é o candidato de Bolsonaro em Pernambuco. Com 11% das intenções de voto, figura em 5 lugar na disputa pelo governo estadual. Já o presidente Bolsonaro acumula 22% dos votos a presidente, segundo o Ipec, contra 64% de Lula.
Rejeição a Bolsonaro reforça desassociação entre os líderes
Para a cientista política Carla Michele de Quaresma, a intenção de voto expressada pelos eleitores nordestinos em Bolsonaro está entre os motivos para ele ser escondido das campanhas estaduais.
O Nordeste é a região em que o presidente vai pior no país, segundo as pesquisas de intenção de voto.
"No Ceará, por exemplo, percebemos que 20% a 30% do eleitorado estão dispostos a votar no Bolsonaro. Para uma eleição proporcional, isso é interessante: um deputado que tem vínculo pode render em votação expressiva. Isso não é o mesmo para eleger candidato majoritário, ao governo do estado", diz.
Quaresma, que é professora da Faculdade Ari de Sá, no Ceará, cita o caso de Capitão Wagner, que liderava a disputa até esta semana, segundo pesquisa Ipec.
"Como o Capitão é visto como aberto ao diálogo, alguém que já recebeu pessoas da esquerda no CE, esse comportamento dele pode ser afetado pela vinculação a Bolsonaro e ele pode perder votos", afirma.
A análise muda de figura quando os candidatos bolsonaristas estão em posição de desvantagem nas pesquisas. Do terceiro lugar para baixo, avalia Carla, se ligar a Bolsonaro é estratégia positiva mesmo se não chegar ao segundo turno.
"Mesmo que não chegue ao segundo turno, pelo menos a pessoa tem votação expressiva e entra na próxima etapa da eleição em posição confortável para negociar participação em outra campanha e, depois, fatias do governo. É um capital político importante", diz.
O que dizem os candidatos
Questionado pelo g1 sobre não atrelar sua campanha à imagem de Bolsonaro, Weverton Rocha, candidato do PDT no Maranhão, afirmou que sua candidatura é construída na "base de diálogo" e reafirmou ser uma candidatura com algum tipo de ligação com os três principais presidenciáveis – Lula, Jair Bolsonaro e Ciro Gomes.
"O candidato do meu partido é o Ciro Gomes, meu vice é do PL e na minha base há os movimentos sociais que apoiam a candidatura de Lula. Aqui trabalharei com quem for eleito", disse o candidato.
Sílvio Mendes afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o presidente Jair Bolsonaro possui outro candidato no Piauí, Coronel Diego Melo (PL), e, por conta disso, não tem como "dar uma resposta" sobre usar ou não a imagem do presidente na campanha estadual.
Valmir de Francisquinho disse que mantém o apoio a Bolsonaro e que o uso da figura do presidente em suas propagandas "diz respeito apenas ao presidente Jair Bolsonaro", conforme comunicado enviado por sua assessoria de imprensa. "Diante do comportamento instável do presidente, é possível que ele venha a Sergipe antes do pleito", diz a nota.
Procurado pela reportagem, Capitão Wagner, candidato do União Brasil no Ceará, não se pronunciou.
Fonte: g1