Fundador e presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, o engenheiro Daniel Sottomaior, 43, afirma que a separação entre Estado e religião
corre risco com o avanço eleitoral dos políticos evangélicos.
Qual a avaliação do sr. sobre a manifestação dos deputados evangélicos?
O avanço dos evangélicos é uma tragédia anunciada. Essa bancada não apareceu do dia pra noite. Há muitos anos o dízimo financia candidaturas. A reza no plenário revoltou o meu estômago, mas não me surpreendeu.
Como o sr. interpreta a ação do presidente da Câmara, que é evangélico, no episódio?
O que aconteceu ontem [quarta] não tem precedente em termos de ataque ao Estado laico. Quem interrompeu a sessão para rezar no plenário agiu ancorado no poder da presidência da Câmara, que deveria ser a defensora da Constituição. Foi a primeira vez que isso aconteceu, mas não será a última.
Por quê?
As violações à laicidade vêm se aprofundando porque nenhuma força política se opõe. Ninguém quer desagradar eleitores, mesmo que não tenha base evangélica. Ninguém quer a pecha de anticristo ou de ateu.
Qual a diferença entre esta e outras manifestações no plenário?
A diferença é que o Estado laico é protegido pela Constituição. O texto exige a separação da religião e do Estado, não do Estado e da ideologia.
Fonte: Folha de São Paulo
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