O pastor Marco Feliciano é um "achado". Quem diz isso é ele mesmo, num vídeo postado no YouTube em que se apresenta como uma novidade na cena evangélica. "Já perguntei para Deus por que ele me levantou. Fui pego a laço."
Feliciano repete nos cultos que já leu a Bíblia mais de 30 vezes "da capa à contracapa" --a primeira delas aos nove anos. Diz ainda ter escrito 18 livros "acerca dela" e uma enciclopédia religiosa "de mais de 700 páginas".
No palco, costuma recorrer a argumentos de autoridade. Falando sempre muito alto, quase gritando, garante ter conquistado o título de "doutor em divindade" após ter feito "mais de seis faculdades" e um mestrado "que me deu este anel de formatura que eu tenho no dedo".
Aos 40 anos, o deputado federal pelo PSC paulista ganhou fama após ser eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Classificado por muitos como um fundamentalista religioso, racista e homofóbico, enfrenta a oposição de outros parlamentares e tem sido alvo de passeatas pelo país. Ontem mesmo houve protestos de rua em várias capitais.
Militantes dos direitos humanos citam, entre outras, uma mensagem no Twitter em que Feliciano classifica os africanos como descendentes de um ancestral "amaldiçoado por Noé". Ele nega. Diz ter sido mal interpretado.
O INÍCIO
A história de Feliciano no mundo evangélico também é cercada de polêmicas. Apesar das credenciais que gosta de exaltar, ele enfrentou dificuldades para conseguir ser reconhecido como pastor.
Antes de fundar sua própria igreja, a Catedral do Avivamento, baseada em Orlândia, interior paulista, Feliciano tentou virar pastor da Assembleia de Deus no ramo Belém, o principal da denominação.
Após descobrirem que ele já pregava como pastor --uma espécie de estelionato religioso--, lideranças da Assembleia rejeitaram seu nome. A saída foi recorrer ao exterior. Aos 27 anos, viajou para os Estados Unidos, onde foi consagrado por Ouriel de Jesus, um dirigente de igrejas evangélicas brasileiras naquele país que já foi acusado de heresia por pastores brasileiros.
"No dia em que eu revelei para todo mundo que eu não era pastor, as portas se fecharam", comentou anos atrás num programa próprio de TV.
Hoje, no comando de uma denominação com 14 "filiais" (expressão usada por membros da própria igreja) e astro de programas próprios de TV na CNT e emissoras regionais, Feliciano conseguiu retomar o diálogo com as lideranças do ramo Belém da Assembleia.
NÔMADE
A vida religiosa de Feliciano começou aos 15 anos. Filho de mãe solteira, ele era guardinha-aprendiz em Orlândia quando ficou curioso pelos assobios de músicas religiosas do amigo e hoje compadre Ronaldo Pulhes, bancário na região.
Foi Pulhes quem levou Feliciano à Assembleia. O jovem começou a trabalhar voluntariamente para a igreja e cresceu rápido nos estágios iniciais. "Ele sempre gostou de liderar", diz o compadre.
O grande salto como pregador foi em 1999, aos 26 anos, quando subiu ao palco do tradicional encontro evangélico Gideões Missionários, que ocorre em Camboriú (SC).
Falando para a multidão, Feliciano surpreendeu os pastores tradicionais com o ritmo alucinante de sua pregação e, mais ainda, com a euforia dos fiéis. Mandou seu recado: "Sou um menino só por fora, por dentro tem um homem de Deus escondido aqui".
No meio evangélico, Feliciano é tido como um "pregador itinerante". Seu poder não advém da capacidade de fidelizar um público numa base fixa, como é o caso de Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial, mas de uma a atuação mais intensa "no varejo". Com auxílio da TV, ele vende livros, CDs e DVDs via internet e telefone. E vai percorrendo cidades em cultos menores. Já pregou em mais de 1.700, diz.
Esse tipo de atuação ajuda a explicar sua votação em 2010. Sem reduto, conseguiu 211 mil votos em 634 dos 645 municípios paulistas.
PATRIMÔNIO
Para impulsionar os negócios, o pastor montou uma pequena rede de empresas. A Marco Feliciano Empreendimentos Culturais e Eventos cuida dos shows. A Grata Music foi criada para vender CDs e DVDs. E a Tempo de Avivamento Empreendimentos, para publicidade. Sua assessoria diz que as duas últimas, embora ativas, não atuam.
Na pequena Orlândia (40 mil habitantes), Feliciano mora com a mulher e três filhas numa das maiores casas da região, num terreno de 600 metros quadrados. Tem mais seis imóveis no município.
À Justiça Eleitoral, também declarou três carros de luxo, um deles uma BMW avaliada em R$ 95 mil.
Reprodução Cidade News Itaú